sábado, 4 de março de 2017

Amor fati

Seria mas não é
Poderia mas não pôde
Cantaria mas não cantou
Sonharia mas não sonhou 
Pensaria mas não pensou 

O sonho 
A onipotência 
A culpa  
O querer consertar 

Viver no futuro do pretérito
Negar o pretérito perfeito 
É morrer no presente

O que foi, foi 
O que é, é
O que será, será 

O real 
A imanência 
O aceitar. 

domingo, 4 de dezembro de 2016

Promessas

Te prometi um dia um mundo com apenas manhãs ensolaradas
Me restaram silenciosas madrugadas

Te prometi um dia lhe comprar um presente só meu
Olho pro céu e o presente não pode ser seu

Te prometi um dia que você iria virar um pontinho voando no céu
Mas tudo nem chegou ao papel

Te prometi um dia que iria ver novas paisagens
É um desconhecido que senta ao meu lado nas viagens

Te prometi um dia novos risos e lágrimas dentro do cinema
Só há reminiscências de antigas cenas

Te prometi um dia cozinhar para você deliciosos pratos
Há pessoas de menos para esses grandes pedaços

Te prometi um dia que iríamos cruzar o mar
O mar nos cruzou antes com seu duro navegar

Você me prometeu um dia que iríamos visitar Petrópolis
Por breves momentos estivemos lá juntas, estivemos sim
Mas separadas pelo tempo de uma vida inteira
Que tivemos e não teremos mais

Me desloco do passado e do plural
E a partir disso te prometo
Fazer, viver e aproveitar tudo que te prometi
Embora você não esteja mais aqui.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Cores

Um dia uma bomba caiu no Mar. Seu azul foi destruído, havia apenas chamas e fumaça. As chamas e fumaça depois de muito tempo desapareceram, contudo o azul não quis voltar. Foram chamados homens e mulheres para pintar o Mar, pois achavam que assim o azul finalmente retornaria e os estragos provocados pela bomba desvaneceriam por completo. 

Com seus pincéis de cor azul, lá foram as pessoas a pintar. Tentaram por um, dois, três dias. A cor permanecia durante alguns minutos e depois desaparecia. Seus esforços foram em vão, e aos poucos desistiram. O Mar estava lá com suas ondas, sem seu azul. De vez em quando pessoas mais corajosas navegavam por ele, e para ele contavam seus sofrimentos e dores, desilusões e raivas, temores e amores. Afinal, como o Mar não os ouviria? Ele já tinha sido atingido por uma bomba no passado, ele entenderia. E o Mar... 

Viveu durante muitos anos achando que nada ali narrado poderia se equivaler a sua dor. Passou muitos anos ignorando as problemáticas dos homens e das mulheres a navegar por ele. Afinal, o Mar via o azul dos olhos daqueles seres, mas não sentia o azul em suas águas. Como aquelas pessoas poderiam se dizer infelizes carregando azul? 

Um dia um dos donos daqueles antigos pincéis retornou ao Mar. Comentou que sentia muito por não ter conseguido trazer seu azul de volta, e narrou que entendia essa dor, uma vez que o verde foi levado embora de sua vida com os jardins onde engatinhava durante a infância. Ele trazia consigo uma pequena pedra azul, e no Mar jogou. 

- Me desculpe não ter voltado antes, não seria fácil olhar para você. Acho que esta é a forma de estarmos mais perto daquilo que perdemos. Tomarei coragem e voltarei em breve. 

E lá se foi embora o pintor, deixando a imensidão de ondas esverdeadas para trás.

sábado, 4 de abril de 2015

Engatinhando mais uma vez

Acordo todos os dias com você já desperta
Uma xícara de café embaixo da cama
As janelas todas abertas
Uma voz que me chama
Que me afaga e me completa

Acordo todos os dias com a porta abrindo
"Tá na hora, amor"
Levanto ainda dormindo
A rotina está ali sem grande esplendor
Dela não estou fugindo

Acordo todos os dias com o brilho dos seus olhos
Seu fino e sensível avental molhado
A tranquilidade que emanava dos seus cabelos
E seu riso ou choro por todo lado

Acordo todos os dias lembrando da textura de suas mãos nas minhas
Do som de seus pés descalços ecoando pela casa
De todas as vezes que não entendi suas loucas risadas
Ou de todas as vezes que entendi seu choro e não pude fazer nada

Acordo todos os dias escutando o som de um piano
Ele me lembra de nossos planos
Adormeço ao som de um violino
Ele me traz de volta nossos anos

A eternidade.

Acordo todos os dias sem você
Ainda me pergunto como e o porquê
Reminiscências de seus pés, suas mãos, seus cabelos, seu sorriso
Indo embora deste abrigo

Contudo, todos os dias em que acordo
Sei que você ainda está aqui
Para todo o sempre
Comigo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

My purple flower

Minha paixão despertou por um sorriso
E pelos olhos que brilhavam
Um vestido movediço 
Que pés descalços sustentavam 

Me disseram que fazia frio, não recordo
Lembro apenas do calor que nos envolvia
E a todos que estavam a bordo
Apenas por um dia

Um dia, um mês, quatro anos
Tenho agora muitos planos
Muitos danos
Você. 

Que me faz sorrir com seu sorriso 
Que me faz querer viver com morte
Que me faz rir sem aviso
Que me faz florescer com mais sorte.

Roxo traz morte ao cinema
Roxo traz amor à nossa cena
Roxo é um segredo do nosso navegar
Roxo é amar no nosso mar

O mar e você.
O mundo e você.
Você e nós.
O mundo e o mar.
Nós e o mundo.
O mar e nós.
Você e nós e o mar e o mundo.

E o amar.
Minha paixão perdura a cada segundo.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Para dois corações

Pulando ponteiro por ponteiro, você me alcançou
Chegou na décima primeira hora e o relógio se estancou
Tentei consertá-lo, mas você me impediu
Perguntei o porquê, você apenas riu

Eu ri de volta e aquela foi a primeira vez que te vi
Aos risos e pulos, foi como te conheci
Com o tempo, percebi que havia algo no seu olhar 
Algo que sempre me fazia querer chorar

Não, não era apenas nos seus olhos
Era em como você pulava, ria e me impedia de ajustar relógios
Coisas mais importantes precisavam ser ajustadas
E até hoje me sinto grata de ter me levado em sua jornada

Nela conhecemos lugares grandes e complicados
Mas o meu preferido sempre foi o menor que era grande ao seu lado
De longe, nunca achei que fosse caber o nosso amor
Até que descobri que você tinha dois corações e era muito sonhador

Quero sonhar sempre com você e seus corações
Pois hoje você me disse que o relógio já pode ser consertado 
Perguntei o porquê, você respondeu que foi pelo tempo que tivemos
E que não teremos mais

Em meio a pulos, risos e lágrimas, você me ajudou a consertar o relógio
E, ponteiro por ponteiro, começou a se afastar
Antes de você ir, eu disse que sempre que fosse a décima primeira hora eu iria lembrar do seu primeiro riso
E de como você havia me alcançado e o nosso tempo havia passado

E então você me deu um beijo na testa, como sempre costumava dar
E só essa faísca me fará querer viver mais
Apenas por mais um beijo na testa
E pelo pulo que te traz. 

domingo, 28 de abril de 2013

Táxi da morte

"Cause there's no comfort in the waiting room
Just nervous pacers bracing for bad news
And then the nurse comes round and everyone lift their heads
But I'm thinking of what Sarah said
That love is watching someone die

So who's gonna watch you die?"

...

Death Cab For Cutie, What Sarah Said