quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Cores

Um dia uma bomba caiu no Mar. Seu azul foi destruído, havia apenas chamas e fumaça. As chamas e fumaça depois de muito tempo desapareceram, contudo o azul não quis voltar. Foram chamados homens e mulheres para pintar o Mar, pois achavam que assim o azul finalmente retornaria e os estragos provocados pela bomba desvaneceriam por completo. 

Com seus pincéis de cor azul, lá foram as pessoas a pintar. Tentaram por um, dois, três dias. A cor permanecia durante alguns minutos e depois desaparecia. Seus esforços foram em vão, e aos poucos desistiram. O Mar estava lá com suas ondas, sem seu azul. De vez em quando pessoas mais corajosas navegavam por ele, e para ele contavam seus sofrimentos e dores, desilusões e raivas, temores e amores. Afinal, como o Mar não os ouviria? Ele já tinha sido atingido por uma bomba no passado, ele entenderia. E o Mar... 

Viveu durante muitos anos achando que nada ali narrado poderia se equivaler a sua dor. Passou muitos anos ignorando as problemáticas dos homens e das mulheres a navegar por ele. Afinal, o Mar via o azul dos olhos daqueles seres, mas não sentia o azul em suas águas. Como aquelas pessoas poderiam se dizer infelizes carregando azul? 

Um dia um dos donos daqueles antigos pincéis retornou ao Mar. Comentou que sentia muito por não ter conseguido trazer seu azul de volta, e narrou que entendia essa dor, uma vez que o verde foi levado embora de sua vida com os jardins onde engatinhava durante a infância. Ele trazia consigo uma pequena pedra azul, e no Mar jogou. 

- Me desculpe não ter voltado antes, não seria fácil olhar para você. Acho que esta é a forma de estarmos mais perto daquilo que perdemos. Tomarei coragem e voltarei em breve. 

E lá se foi embora o pintor, deixando a imensidão de ondas esverdeadas para trás.

2 comentários:

  1. Belo texto, muito singelo. Uma narrativa triste, mas doce, como de costume. Sempre me emocionam as palavras que você escreve aqui.

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  2. Great Expectations influênciou de alguma forma?

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